Francisco Canindé Tinoco de Luna*
A comunicação humana, feita por meio da linguagem, nada mais é do que a transmissão de significados. O homem, observando o mundo a sua volta, percebe e capta milhares de informações e sentimentos. Essas informações e sentimentos viram imagens em sua mente, ou seja, viram símbolos, símbolos que, logo a seguir, ganham valor e se transformam em significados. Esses significados são vitais para a sobrevivência e o progresso humano, pois, tratam de avisar perigos, apontar vantagens, informar sobre uma descoberta, passar o conhecimento a frente e etc.
Acontece que o homem percebe e sente a cada instante novas informações e sentimentos e é isto que faz com que, ao longo de sua trajetória de vida, o ser humano produza uma quantidade infinita de significados, ou melhor, produza uma grandiosa variedade significativa. Surge aí um problema: Como é que o homem vai conseguir passar para o outros, com eficiência, essa quantidade infinita de significados que ele produz ao longo de sua existência? Em outras palavras, como é que o homem consegue obter eficiência comunicativa?
Para responder a essa pergunta vamos descrever um pouco acerca da história da transmissão da variedade comunicativa. Dizem os estudiosos que os animais também conseguem transmitir significados, ou seja, de certo, eles também conseguem se comunicar. Os peixes conseguiriam transmitir até dez significados, enquanto algumas espécies de macacos até quarenta sinais. São sons e posturas corporais que os animais transmitem uns aos outros para comunicar alguma coisa: a aproximação de um predador, a existência ou falta de comida, a sexualidade e etc. No fundo, esse comportamento, seria muito mais instintos de sobrevivência do que propriamente uma comunicação; de qualquer modo, é inegável que se trata de uma forma incipiente de transmissão de variedade significativa.
O homem, lá nos seus primórdios, não era muito diferente dos outros animais. Acredita-se que, antes de criar a linguagem verbal, os humanos conseguiam transmitir cerca de 100 a 150 sinais, o que tornaria a comunicação humana absolutamente impossível, haja vista a quantidade infinita de significados que produz ao observar a natureza a sua volta. Para resolver esse problema, o homem, depois de muito esforço e de muitos séculos, ou quem sabe milênios, criou um instrumento potente para transmitir com eficiência a variedade significativa, ou seja, para se comunicar com eficiência: esse instrumento potente é conhecido como linguagem verbal humana.
O percurso do homem primitivo até a invenção da linguagem verbal foi mais ou menos assim: O ser humano primitivo, lá nas cavernas, agiu sobre a natureza criando a cultura e o trabalho; ao trabalhar e transformar a natureza o homem se sentiu um ser produtivo; ao produzir se viu diferente dos demais entes da natureza e tomou consciência de si próprio; tomando consciência se viu na tríade existencial do “eu, aqui, agora”, passando a ter noção de individualidade,de tempo e de espaço; questionando-se acerca do “eu, aqui, agora”, o homem começou a simbolizar mentalmente o que via e iniciou um processo de comunicação consigo mesmo, o que chamamos de comunicação intra-humana; essa comunicação intra-humana veio junta com o desejo e a necessidade de passar a frente esses significados; surge assim o desejo de falar e para falar comunicando com eficiência o símbolos que estavam em sua mente o homem criou a linguagem verbal.
Mas a linguagem verbal já nasceu com um problema: como é que milhões de significados que são produzidos pelo homem no seu contato com o mundo seriam transmitidos de modo eficiente pela linguagem que, como sabemos, é composta por um número pequeno e limitado de sinais e fonemas? A linguagem é um instrumento, mas, todo instrumento para funcionar precisa de um dispositivo. Por exemplo, um carro é um instrumento que para funcionar precisa de chave de ignição. Qual foi, então, a chave de ignição da linguagem verbal? A resposta é: a chave que aciona a linguagem é um dispositivo que, incrivelmente, aparece em todas as línguas naturais e chama-se dupla articulação da linguagem. Mas a dupla articulação da linguagem é tema para outra aula. Vamos parar por aqui; não há necessidade de “sofrer” por antecipação.
*Professor da Faculdade do Vale do Jaguaribe – FVJ, Especialista em Língua Portuguesa Leitura e Produção de Textos e Especialista em Metodologia e Docência do Ensino Superior
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