ENTREVISTA COM UM CRIMINOSO; detalhes do submundo das penitenciarias
Melina Galdino de Souza*
Melina Galdino de Souza*
Eu tento com esta matéria mostrar um pouco acerca de uma pessoa que já se envolveu em alguns crimes. Não tenho a menor intenção de saber detalhes de sua vida desta pessoal, nem tão pouco invadir sua privacidade, por isso não revelo o nome verdadeiro do entrevistado. Agradeço a confiança que ele depositou em mim ao concordar em me dar essa entrevista para uma matéria acadêmica.
Melina- No ano de 1995, Roberto** foi um dos sete assaltantes de uma das agencia do Banco do Brasil de Fortaleza (CE) Ele me contou um pouco sobre este assalto e também me dá uma breve entrevista de como é a vida dele hoje. Como aconteceu este assalto?
Roberto- Foi o seguinte: Eu e mais seis amigos, um deles soldado, combinamos de assaltar o banco. O soldado que era da Paraíba tinha um pouco de conhecimento e nos convidou e depois agimos. Todo plano foi feito no estado da Paraíba. Quando chegamos ao local na cidade de Fortaleza, o soldado entrou primeiro no banco seguido de mais dois que eu não sei quem eram. Antes que nós saíssemos do banco a policia local chegou atirando, eu levei dois tiros nas pernas, consegui fugir para o Rio grande do Norte sendo preso depois de algum tempo. Quando os policiais me pegaram eu já tinha abandonado todo o dinheiro que estava comigo, sem nem saber a quantia, assim como armas. Eu queria me livrar daquela situação ainda mais porque eu estava ferido. Nunca antes eu havia pensado em fazer algo como assaltar um banco, mas com o tempo as pessoas vão mudando, não sei como surgiu a ideia.
Melina- Falando sobre os dias de hoje, como você considera sua vida Roberto?
Roberto- Normal como a de outras pessoas, tenho casa, um trabalho digno, vivo em uma cidade tranqüila.
Melina- Quais foram a conseqüências na época do assalto?
Roberto- Na prisão, fui maltratado, porque como no assalto feri um policial, eles revidaram me maltratando, para dificultar minha vida durante aquele tempo na prisão. Também o fato de ficar longe dos meus filhos e a discriminação sofrida por parte da sociedade
Melina- Como era a vida na prisão?
Roberto- Na primeira vez na prisão, os primeiros meses foram bem difíceis. Como já respondi antes sofri bastante, maus tratos pelos policiais, fiquei na solitária, dormi no chão com ratos,baratas. E às vezes os “gambés” (como ele chama os policiais ) invadiam a cela com lanternas e armas para coagir e me ameaçar de morte. Depois de um tempo eles me esqueceram um pouco e então fiz amizades com outros presos, comecei a trabalhar dentro do presídio, o trabalho era na parte interna, eu fazia serviços como receber as pessoas que iam visitar outros presos. Algumas pessoas chegavam a me perguntar o meu horário de saída, me confundindo como um funcionário normal. Mas tudo isso apenas depois de ganhar confiança dos agentes penitenciários e da direção, inclusive do chefe de disciplina.
Melina- Você acha que sua vida teria sido diferente se você não tivesse feito algumas coisas no passado?
Roberto- Bem antes de eu cometer os primeiros crimes eu era evangélico e freqüentava a igreja, estudava, fazia teologia bíblica, trabalhava como mecânico. Depois de me envolver no crime tive como conseqüência, parar de trabalhar. Mas mesmo na cadeia eu tive a chance de trabalhar e neste trabalho recebia mais ou menos meio salário na época e redução de pena. Neste trabalho aprendi várias coisas como: artigos relacionados ao crime e a pena. Apesar de estar preso eu não me considerava um bandido pois eu estava pagando por algo que eu fiz, cumpri pena por três anos e sete meses. Eu sai às 5 horas para trabalhar no próprio presídio e voltava para a cela as 17 horas da tarde
Melina- Você ver razões para alguns dos crimes feitos por outras pessoas?
Roberto- Na realidade, não existem justificativas para os crimes feitos hoje, como crimes contra pessoas inocentes, a violência hoje é tão grande que as pessoas morrem sendo inocentes. Se eu tivesse ficado em uma cadeia que eu não pudesse trabalhar eu talvez tivesse me tornado mais violento. No período em que eu estava preso houve duas rebeliões, mas eu não participei de nenhuma, a prisão foi como uma faculdade da vida. Na prisão se você não tem uma ocupação você pode se tornar mais violento e aprender meios de cometer outros crimes. Hoje o que aumenta a criminalidade é a droga. As autoridades deveriam ver o lado social que está deixando a desejar, nem todos jovens se interessam pela educação que é fundamental.
**O nome Roberto foi alterado para manter a privacidade do entrevistado
*Aluna do I período de Letras da Faculdade do Vale do Jaguaribe - FVJ
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